segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

SAÚDO A SAUDADE

Quando sinto falta de uma saudade
Saúdo a falta que o passado me faz

ESPERANDO HORÁCIO

Já haviam se passado três horas. Cento e setenta e oito minutos a mais que o pevisto, capaz de inquietar até mesmo o mais paciente dos monges budistas. Quer sejam tibetanos ou não.
Um quarto de dia e nada. Ali sancionava a falência de todo sistema.
Do maço amassado puxou o remoto cigarro e riscando um palito de fósforo, pensou: "Ai desses filho da puta se vier alguém me encher o saco." E ninguém foi.
Seus olhos fitavam o chão em um trago estreiante. Tossiu. Mas o fez indiscreto. Tamanha fora sua rouquidão que causou desconforto em todos presentes na sala."Que se foda." Continuou por mais quase oitenta segundos em tosses, pigarros e tragos até que o chamassem pelo nome. Antes mesmo de se levantar da molesta poltrona de espera, Horácio Menezes de Lima arremessou o cigarro ao chão. Com o dedo médio apoiado ao polegar, formando o esboço de uma catapulta. "Como se não me bastasse a demora, ainda não me deixaram terminar meu Marlboro."
Seus passos obesos romperam em eco o silêncio, perto de mórbido, daquela saleta. Caminhou por mais vinte e quatro segundos e meio até o guichê. Da estreita janela ensebada, uma voz muito aguda o recebeu. Somaram mais seicentos e trinta segundos até perceberem que, devido a senilidade do rabugento paciente, este havia esquecido todos seus documentos em domicílio, sendo assim incapaz de realizar a consulta.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

DURALEX SED LEX

- Na cidade de Frankfurt, na Alemanha, é proibido usar cavanhaque.
- Em Bocas del Toro, no Panamá, o governo proibe a comercialização de azeitonas.
- Na região de Dojran, na Macedônia, é proibido comer de luvas em bares e restaurantes.
- Na cidade de Hermel, no Líbano, não são permitidos políticos chamados Antun Chaniny.
- Em Denau, no Uzbequistão, é proibido bater palmas em eventos púbilcos.
- Na cidade de Tarragona, na Espanha, é proibido tomar chá as 17h.
- Em Locarno, na Suíça, é proibido carregar moedas nos bolsos após as 22h.
- Na cidade de Farum, na Dinamarca, é proibído comentar futebol.
- Na cidade de Carlos Barbosa, no Brasil, é proibido a prática de karaokês.

DICAS DO VELHO SOFÁ


TÍTULO: Filhos da Esperança (Children of Man)
GÊNERO: Drama
DURAÇÃO: 114 min.
ELENCO: Clive Owen. Julianne Moore. Michael Caine. Chiwetel Ejiofor. Charlie Hunnam
DIREÇÃO: Alfonso Cuarón
PODUÇÃO: Marc Abraham. Eric Newman .Hilary Shor. Iain Smith. Tony Smith
FOTOGRAFIA: Emmanuel Lubezki
TRILHA SONORA: John Tavener
_______________________________
Baseado no livro de P.D. James, “Filhos da Esperança” (Children of Men) traz uma potente indagação sobre o futuro da política e da convivência social no planeta, quando um facismo exacerbado toma conta da Inglaterra. O ano é de 2027 e o cenário é apocalíptico, devido à crise mundial instaurada pela infertilidade dos seres humanos. A humanidade caminha para sua extinção. A situação se agrava com a morte do mais novo cidadão existente, este já com 18 anos de idade. Londres se torna uma capital cobiçada pelos demais sobreviventes do mundo, ainda que arrasada pela violência e dominada por seitas nacionalistas. É a cidade onde vive o burocrata desiludido, porém ex-ativista Theo (Clive Owen) em meio à todo esse caos. Quando a última esperança restante no planeta é ameaçada, o ex-ativista é forçado à enfrentar seus fantasmas para proteger o planeta de uma possível e não tardia extinção. O filme apresenta a visão de um futuro bem próximo, que na minha opinião não foge das consequências do descaso e da ignorância humana. Retrata a situação de uma guerra civíl onde nem mesmo a tecnologia pode garantir uma qualidade de vida ou até mesmo a sobrevivência de seus habitantes. Vale a pena ressaltar sequências de filmagens com até 13 minutos de ação bem convincentes além do realismo obtido pela direção e toda a equipe.

O DIA SEGUINTE

Como se não lhe bastasse a insônia, seu desconforto horizontal o cuspira dezenove graus noroeste de seu abastado leito, ao chão.
Bastardo. Ou não.
Não importa se cedo, sua falta de motivos o fez levantar.
Seguiu maquinal o trajeto de sempre. Tal como se nunca pudesse opções.
O regozijo de fora o murchava por dentro.
Da margem ao centro, a enorme azia em erupção.
Litros de água sem qualquer que seja o efeito; se foste assim tentativa de ressureição.
A ressaca.
O por quê do dia seguinte.
Tabaco por vícios. Amargo por vários. Amado por poucos.
Porém era este o dia. Seguinte.
E seguiu.
O sol da janela ardia. É, ainda é dia.
Um banho? Pra toda essa banha?
Talves só o fluxo e o barulho da água. Inodora.
É, pra ele era hora.
E foram-se quartos de hora no quarto de banho. Até que encharcado, murchou ainda mais.
Cabeça? Quase trinta quilos.
Os pés e as mãos, mais uns vinte. O resto são gazes.
Por dentro, arenoso o solo resseca a vida que insiste em brotar.
Porém murcha.
Porém marcha.
É dia seguinte e precisa arcar com o seu calendário.

EXCEÇÃO

Na boca
Nem tudo são dentes.

PARA CADA 2 LITROS

Em cada lugar que morri
Deixei uma gota de sangue.