sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

MARIA EDUARDA

Decidida, entulhou o alforje com bagatelas miúdas que julgara relevantes à fuga. Calçou suas velhas chinelas e com a ponta dos dedos anafados despenteou sua franja, permitindo que esta caísse-lhe aos olhos. Pronto. Chegara ao ápice de sua tensão. Rompeu o salão opulento de suas indiferenças, onde espectadores parcialmente imóveis, sorriam um calmo verão prematuro. Cogitou por explicações, porém tal herança trombava-lhe aos dentes feito bocejo, impedindo que um breve adeus lhe rasgasse a pose. Ainda era manhã. Temente ao cativeiro patriarcal que sua patologia a subordinara, tentou ganhar tempo. E ganhou. Levara apenas um quarto de hora para abandonar todo o pavilhão. Estava do lado de fora. Censurou de início a ausência de raias, mas estava ciente de seus objetivos. Teria de se acostumar com o vasto. No auge de seus quatro anos de vida, Maria Eduarda deixara o trono de suas províncias.

Um comentário:

canhoto disse...

que moça mais vivida, a maria eduarda, hein?