terça-feira, 2 de janeiro de 2007

AONDE LEVAM MINHAS SOLAS

Local: Babilary
Localidade: Ilha situada no mar da China Oriental, a sudeste do Japão.

Sem dúvida alguma a mais formosa e uma das mais prósperas ilhas do arquipélago de Nakador. Talvez por ser a única que ainda mantém intactas sua fauna e flora, além de conservar um curioso regime de governo. Somente o sexo feminino estaria hábil a tais encargos políticos. A ilha caiu sob o domínio culminante do "sexo frágil" ainda em 1712, na guerra de Camaraca, quando a rainha Aiginu venceu as tropas de seu fraco marido ao posicionar as jovens mais atraentes no fronte de batalha. Inadmissível, porém o exército inimigo não suportou tamanho encanto e a peleja foi ganha sem o derramamento de nenhuma única gota de sangue. Desde então a rainha possui um vasto harém, formado em sua enorme maioira por estrangeiros, entre os quais ela escolhe anualmente um marido. O consorte deve ser bem dotado, discreto. Jamais impudico. As demais mulheres da ilha, além de guerreiras e piratas, são também excelentes instrumentistas e poetisas. Os homens não recebem nenhum tipo de educação, estando somente preocupados com a própria aparência. O divórcio legalizado é um privilégio restrito às mulheres, estas que não levam tão a sério a consumação matrimonial. A capital econômica da ilha é a portuária cidade de Ramaja, atualmente com a populção de 927.441 habitantes nativos. Ao ancorar nossa modesta embarcação nos domínios do porto, surpeendidos fomos por uma salva de palmas, seguida de um espetáculo teatral de causar a inveja às ribaltas não tão ordinárias dos ilustres palcos da Broadway. Durante uma burlesca cerimônia nativa, fui então apresentado à atual rainha, esta que aguardava-me impaciente. Sua cordialidade polida e seu malicioso sorriso fazia-me por hora, receioso.Um amigo em comum, o historiador Abade Pierre François Guyot Desfontaines*, antigo morador da cidade de Ramaja, foi o responsável pela mediação do encontro. Muito havia me dito sobre os peculiares costumes da ilha, porém não aguardava tamanha surpresa tal qual esta que estaria por vir. Ainda na primeira madrugada, nos domínios de meu aposento, surpeendido fui pela obcena guarda real, que à força me toma o leito ainda morno de sono. Debati-me como um demente, porém tão inútil em minha luta, que desisti do confronto ainda nos primeiros cinco minutos de resistência. Vestido em negro capuz de veludo, fui conduzido à suíte real. Trêmulo, agora despido e bastante humilhado, encarei vossa magestade olhando-a fundo aos pálidos olhos. Estes famintos, em constante análise de meus dotes, ainda que exageradamente modestos. Talvez devido àquela insegura situação. Baqueado esperei, tão pequeno, por meu veredicto. Foi quando, após uma semana, acordei. Em alto mar. Esfomeado e ardido de sol. Porém um imenso sorriso rasgava-me todo o rosto. Tinha eu a certeza de que, nunca mais em toda minha breve existência, precisaria enacarar tão gulosos e sádicos olhos, tais quais os daquela libidinosa rainha. Estes que, mesmo desconhecendo o motivo aparente de minha absolvição, livrara-me de toda uma vida escrasvista dentre todos os prazeres carnais existentes.
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* Autor da obra: Le Nouveau Gulliver ou Voyage de Jean Gulliver, Fils Du Capitaine Gulliver, Traduit d´un Manuscrit Anglois, Par Monsieur L.D.F., Paris, 1730

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