quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

ENTRE VISTAS

Entrevista cedida por Taliban, 23 anos, integrante da coletividade União do Movimento Punk de Dourados/MS. Segue o texto em anexo:
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- GNZ: O que é ser punk?
- Taliban: Não têm como falar como se deve ser para ser. É algo que a pessoa acaba por descobrir naturalmente. Não têm meio termo. Tudo começou com o lance vinculado à musica suja, poucos acordes letras de protesto e ao visual nojento. A agressividade movia esses jovens inconformados. Uma corrente punk sob influência do anarquismo é a que acreditamos. Essa corrente fez do punk um movimento de atitude, que se dedica na luta sem tréguas contra o modo de produção capitalista e a cultura dominante.
- GNZ: Como a filosofia punk foi adaptada ao Brasil?
- Taliban: De acordo com a realidade daqui. Pois não têm como viver uma realidade que só existe além mar. O punk surgiu no Brasil no fim da ditadura militar. O auge mesmo foi na década de oitenta quando então já ficava claro a dinâmica punk no Brasil. Principalmente os punks do ABC paulista, que eram fortemente ligados ao movimento operário, numa época de repressão violenta. No ABC era muita treta. Ser punk era uma questão de sobrevivência.
- GNZ: Como a anarquia pode ser conquistada?
- Taliban: Com a luta revolucionária contra a classe patronal e o Estado. Nós anarquistas acreditamos que devemos atuar nos movimentos populares. É lutando que se aprende a lutar. E durante as lutas ampliam-se as reivindicações. Quando todos estiverem cientes que o poder popular é conquistado através da luta e que somos a maioria, não precisando de patrão nem de Estado, o capitalismo estará com os dias contados. Com o advento da revolução social será implantado o anarquismo. Ou seja, a tomada econômica e administrativa dos setores produtivos e de distribuição pelos próprios trabalhadores. Anarquismo não é festa é luta!
- GNZ: A anarquia é utópica?
- Taliban: Utópica é a paz e a liberdade dentro do capitalismo. Essa idéia de vincular o utopismo à anarquia é o que a burguesia tenta encucar na cabeça dos outros a todo momento, transformando a ideologia do pobre em algo inalcançável. Não se espantem quando a revolução Socialista Libertária bater em suas portas.
- GNZ: Qual seria a solução para os problemas capitalistas?
- Taliban: A Revolução Socialista Libertária.
- GNZ: Qual é o maior inimigo do punk?
- Taliban: O Estado e a burguesia com seus devidos representantes.
- GNZ: Sendo uma doutrina, como pode a filosofia punk ser libertária?
- Taliban: A filosofia punk não é uma doutrina política. Você constrói a filosofia dentro do seu próprio bando, de acordo com a realidade em que estão inseridos. Movimento punk é contra-cultura da juventude inconformada. Devemos ficar atentos para não fazer confusão com o conceito libertário em situações em que ele não se aplica.
- GNZ: O que acha de heróis? Líderes? Mártires? Toda luta acaba tendo um.
- Taliban: Não curtimos tietagem sacou? Como a pergunta já coloca, toda luta acaba por destacar pessoas mais convictas. Mas não são elas que se elegeram heróis. E sim fomos nós. Por exemplo, Buena Ventura Durruti pra mim foi um dos maiores mártires da luta sem tréguas pelo anarquismo. Ler a história dele me faz acreditar ainda mais na revolução.
- GNZ: A ação direta pela causa não é imposta pelos seus militantes?
- Taliban: Não. Ação direta é ação direta. Faça você mesmo. O militante têm que agir. Mas têm bandos que não admitem que pessoas que não têm nada a ver com a causa fique se promovendo em cima da nossa luta, do nosso sangue. Das porradas que tomamos por movimentar o punk. Pois é uma forma de não banalizarem o movimento. Cada qual encontra suas formas de luta. Se você é punk, saiba que não estás sozinho.

2 comentários:

Unknown disse...

então velho, cada um então se adapta a sua propria realidade, não podendo aplicar todas filosofias, doutrinas, ou seja lá o que em todos os casos.

confirma então que cada grupo luta pelas suas proprias causas. como não dizer então que o militante no fim impõe a sua preferência sobre outros grupos? o isolamento seria a solução para cada um viver do seu jeito então?
eu acredito que muitos estejam conformados, e "felizes" com o estilo de vida capitalista e uma mudança nessa area seria então o inferno para estes.

a minha definição de utopia, é uma realidade aparentemente tão perfeita que é quase impossivel de ser alcançada. não existe nada errado de algo ser taxado como utopia, não quer dizer que seja uma causa perdida, só siginifica que é magnifico. e isso se aplica perfeitamente ao anarquismo ?. claro que seria ótimo, mas isso implicaria que TODOS, ou pelo menos uma maioria significativa, fosse reeducada para caminho, para que no fim existisse um numero maior de pessoas satisfeitas. o que seria diferente se um pequeno grupo implantasse essas ideias forçadamente numa sociedade.

ouvi falar de uma banda que acharam a solução perfeita, compraram uma fazenda em algum lugar isolado da civiliazação, e passaram a viver tirando seu sustento da terra numa comunidade. essa então seria a melhor opção de viver.

cada um procura o melhor para si certo? no fim tudo isso tem uma caracteristica em comum, o egoismo. que não vamos ver como uma coisa boa ou ruim, e sim apenas uma coisa.

espero que isso não soe apenas como um monte de ideias desordenadas de um cara insano, ou semi-disléxico.

fido, vulgo bob nelson III

GNZ disse...

A banda se chama CRASS. Foi citada na conversa com o Taliban, porém não coube a nossa breve entrevista.