domingo, 14 de janeiro de 2007

APRECIE COM MODERAÇÃO

Francisco José Itamar de Assumpção nasceu em São Paulo, na cidade de Tietê no último ano da década de quarenta. Auto-didata, aprendeu a tocar violão de ouvido. Taxado muitas vezes de "maldito" e incompreendido por aqueles que buscavam categorizações fáceis para sua música, o compositor acabou formando o núcleo da hoje famigerada vanguarda paulista, ao lado de nomes como Arrigo Barnabé, Vânia Bastos e grupos como o Rumo e Premê. Baseado no Teatro Lira Paulistana, Itamar construiu uma obra singular e hermética, esta em constante desafio para com os rótulos que, cedo ou tarde teriam a pretensão de aparecer. Não se encaixava na MPB tradicional, por atirar no mesmo saco o velho samba, o digerível pop e forte raíz negra da black music e da música africana. Não era levado a sério também como poeta, por suas letras irreverentes, recheadas de irônicas observações sobre o cotidiano urbano, trazendo ainda na bagagem sua experiência como ogã no terreiro de Candomblé de seu pai. Adicione a essa miscelânea uma robusta pitada de arranjos complexos e cheios de referências e citações polirrítimicas. Estava pronto um dos maiores nomes da história da música nacional. Porém um tanto quanto maldito. Era uma balda que o cantor não fazia questão alguma de envergar. Agravando ainda mais sua maldição alternativa, o músico paulistano manteve-se independente por muito tempo, numa época em que ser indie era estar fadado ao abandono da mídia. Enquanto a vanguarda paulista virava história, Itamar não se domesticava. Apenas assumia facetas menos iconoclastas. Há quem diga que Itamar Assumpção foi o principal responsável pelo seu relativo anonimato, por ter escapulido muitas vezes dos microfones e câmeras que estavam voltados para ele, cúmplices da sua genialidade. Em 1986 ressurge à cena underground com o o disco que inaugurou parceiras que se manteriam pelo resto de sua vida, como com o poeta Paulo Leminski e de sua esposa e escritora Alice Ruiz. Depois vem o disco Intercontinental! Quem diria! Era só o que faltava! , de 1988. Itamar faz sua primeira e única incursão por uma grande gravadora, a Continental. Apesar do álbum contar com a participação das irmãs Alzira e Tetê Espíndola, não rendeu uma boa aceitação crítica. Itamar se recolheu e ficou 5 anos sem gravar, voltando à tona em 1993. Em 1999, foi detectado em Itamar um tumor no intestino, devida à baixa imunidade causada pelo vírus do HIV. De 2000 2003 enquanto lutava contra o câncer no intestino, Itamar escreveu várias letras na intenção de que fossem musicadas por Sergio Molina e interpretadas pela cantora Miriam Maria, ambos velhos parceiros musicais. Foi na mesma época em que o percussionista Naná Vasconcelos o convidou para uma parceria. Zeca Baleiro, grande articulador da música brasileira contemporânea, era um dos principais responsáveis pelo projeto, que acabou sendo cancelado pela intempestuosidade de Itamar em sua fase terminal. O músico passou os últimos quatro anos combatendo a doença sem deixar de realizar shows. Sucumbiu à doença no dia 12 de junho de 2003 em sua casa, no bairro da Penha, em São Paulo. Deixando-nos sete álbuns lançados. Segue a discografia:
-Beleléu, Leléu, Eu (1980).
-Às Próprias Custas S.A. (1983).
-Sampa Midnight (1986).
-Intercontinental, Quem Diria? Era Só o Que Faltava (1988).
-Bicho de Sete Cabeças, duplo (1993).
-Ataulfo Alves por Itamar Assumpção - Para Sempre Agora (1996).
-Petrobrás - Por Que Eu Não Pensei Nisso Antes? (1998).

6 comentários:

juliaoin disse...

Estou cada dia mais certa que a bagagem de qualquer homem na terra só se enche de sabedoria e vigor quando se é ousado e atrevido, metido e curioso, isso tudo no melhor de todos os sentidos, assim agente espera que a boa música brasileira não pare de tocar, mas quando o antigo ritmo faltar cabe aos novos deixar de mediocridade e começar a se interessar por música que vale a pena..


sei lá se estou certa, ou errada, é só opinião.. mas acho que tem coisa podre de mais por ai, não da pra aturar sem ter opinião sobre..

Unknown disse...

Curioso, não sabia do HIV. Não sabia também da parceria recente com o Sérgio Molina. Será que a Miriam vai gravar?

Anônimo disse...

Bom isso,hein!? abrass

BufuBufu disse...

muito bom ...

Anônimo disse...

Acho melhor mudar para "aprecie sem moderação"

Finaço o bagulho !!!

hasta.

Richardson

Unknown disse...

Continuando a boa opinião da Julia, acredito que falta aos novos "artistas" da tão rica música popular Brasileira, essa coisa inovadora e diferenciada que sobrava no Itamar e que já nos deu tanta coisa boa como a Bossa Nova, os Mutantes e tantos outros geniais artistas de nossa música e que infelizmente, até onde me lembro, sumiu com a morte do Chico Science, na minha opinião, o ùltimo inovador ba MPB.