terça-feira, 9 de janeiro de 2007

SONHO DE HOJE

Subi as escadas afoito. Oito andares. Os estreitos corredores sufocavam-me tais como o nó da gravata que eu nunca usara, talvez na intenção de deter-me. Não teria eu tanto tempo como da última vez em que aceitei o serviço. A porta do apartamento estava entreaberta, o que aumentou meu receio. Porém, tomado por minha enorme ganância, resolvi não abortar a missão. Entrei em silêncio. Não sabia ao certo o que eu procurava, entreteanto foram precisos alguns longos minutos até que a certeza me viesse de encontro. Surgia então, em minhas trêmulas e suadas palmas, todo artefato necessário para romper as barreiras do blindado cofre agora diante meus olhos em mira. Não existei, adiantando o serviço. O medo tornara-me surdo. Foi então que senti uma fisgada de lado, no peito enfim coberto de sangue. De joelhos, desabei em cálida poça afogueada. E só percebi meu trágico fim, quando em último trago de vida, o cheiro de pólvora guarneceu meus abatidos pulmões para sempre. E embrulhado em meu asfixiante lençol, acordei assustado. Pronto para mais outra pequena jornada literal.

Um comentário:

Anônimo disse...

Hahahaha! ótimo!

Morreu em pleno flagrante de ato de delito!

Desse jeito eu nunca morri em sonho. Só de acidente, eu acho. Quer dizer, uma vez fui assassinado com tiros na cara pelo meu sogro.

Mas o que será que quer dizer esse roubo que não deu certo no seu inconsciente? Psicologia vira-lata!