quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

AS BOTAS DE MARIA

Parecia ser apenas outra noite de festa, tal qual as que antecediam a data. Porém, era o show até então mais aguardado. Da cozinha podia-se ouvir o aglomerar das pessoas nos portais da iluminada Praça de Eventos, e o relógio ainda não havia alcançado a décima casa. Às pressas, Maria deixa o banheiro em direção ao quarto, enquanto Jorge tomava seu banho. "Anda Jorge! Eu não quero perder a festa! Cê faz idéia o tanto que já tá lotada a praça?"- grita ela do outro cômodo. Maria mesmo sem tempo, se dava o direito de repentear o cabelo inúmeras vezes. "Anda, Jorge!" Ela havia comprado nesse mesmo dia, um par de longas botas de couro tingido. Um luxo. Não teria outra se não essa, a oportunidade de estreiá-la num dos eventos culturais mais importantes da cidade. "Tô pronta!"- grita Maria terminando de calçar o mais novo pertence. Jorge já sai do banheiro vestido, e com um pequeno pente de bolso dá o último retoque no negro cabelo. "Cê me apressa demais!"- disse ele em tom calmo mas firme. "Daqui até na praça é um pulo. Vai, pega a chave do carro que eu tranco a casa." Partiram. A praça estava lotada. O show já havia começado, mas a festa ainda prometia. Dançaram. Dançaram. Até que... "Jorge, meu pé tá doendo. Vamo assentar um cadim. Daqui a pouco a gente volta pra pista." Passados vinte minutos, retornaram à pista. "Jorge, meu pé continua doendo. Não tô entendendo, porque tá doendo muito!" - reclama novamente Maria. "Falei pra você não vir com essa bota desse tamanho pro show, né? E aposto que custou o olho da cara." - retruca o folião. "Não é a bota, Jorge! A bota é super confortável, uma delícia. Eu experimentei ela na loja, andei com ela até em casa e tava muito bem. E outra, ela tava na promoção. Vamo assentar mais um pouco, vai..."- pedia com charme a esposa. Outros vinte minutos se passam e o casal volta à pista. "Ah não, Jorge, meu pé tá doendo pra caramba, vamo embora!" Contrariados, voltam pra casa. Foi quando Maria, deitada na cama descalçando as botas, percebe: "Jorge, cê não vai acreditar!!! Meus pés doíam na festa cê sabe por quê?" -quase não conseguia terminar a frase tantas eram as risadas. "Eu calcei os pés trocados!!!"

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Baseado em fatos reais.

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