domingo, 24 de dezembro de 2006

MAIS UMA VEZ PARA SEMPRE

O subúrbio nunca fora antes à mim, tão pálido como naquela noite de pouca lua. Os becos pareciam evitar-me, ainda que explícitos ao meu breve destino. Há muito despertencia àquele sombrio cenário. Seria impossível reconhecer-me depois de quase uma década de ausência primária. Um pouco mais leve de culpa, motivei o retorno. Não tardou o duelo. Os curtos segundos que anteciparam a queda foram de total silêncio, salvo pelo ruído do aço cortante adentrando à carne. O cheiro de pólvora fazia lembrar-me a infância. Foi quando ligeiro, saquei do bolso de meu paletó, duas patacas de réis. Depositadas então sobre os olhos da vítima, na intenção de que o Barqueiro do Inferno cumpra seu papel ao encaminhar a alma recém libertada. Pronto. Seria essa, a última vez em que tal putrefata cidade gritaria, ainda que morta de medo, o nome daquele, que mais uma vez, a abandonara para todo o sempre.

Nenhum comentário: