quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

LIVRO DE CABECEIRA

Até que enfim a Falta da Assunto resolveu dar as caras, ainda que em breve visita monitorada pelo Vírus da Gripe. Anos atrás, viria pesada. E sozinha. Abriria a porta principal com suas próprias chaves de ouro e desceria calada, à sala de jantar. Porém dessa vez chegara ainda pela manhã. Pulara às janelas, vindo cair sobre meu corpo ainda dormente de sono. Na sequência, o Vírus invade o aposento. Ela calada. Ele, ofegante o bastante para qualquer esboço vocálico, resmungava ao sol que lhe queimara as pestanas. Ambos cansados. Tentei desfazer-me de minhas pijamas, na intenção social, vestindo o velho paletó. Claro, muito surpreso com o fato que se tornara incomum desde o dia 23 de novembro de um ano qualquer. Tentei parecer cordial. Até digo que assunto puxei. Mas é de noção mundial a mudez de nossa convidada, mesmo quando em presença de seus anfitriões. Nem todos na casa interpretavam positiva a visita, mas também não sabiam que esta se fazia presente. Muito menos, acompanhada. Eu pouco entendia o retorno, mas validaria com fé o direito de ali estarem assim sendo de suas vontades. Percebi não ser breve a visita, uma vez que já era quase a hora do almoço. Resisti. O Vírus da Gripe já havia dormido, devido algum medicamento que tomara durante a viagem. A Falta de Assunto, olhava a janela. Parada. Notei minha chance. E fui quase que gago pedir-lhe um beijo. Foi quando, com os olhos fechados , que ela aceita sem graça o pedido. Manchando meu quarto com histórias de verbos. De letras. E de pontos finais.

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