terça-feira, 19 de dezembro de 2006

AONDE LEVAM MINHAS SOLAS

-O TRISTE DESTINO DE DRIMÔNIA-
Local: Drimônia
Localidade: Europa Meridional

Trata-se de uma região de misterioso endereço. Sua posição geográfica é incerta, tornando quase impossível o acesso ao ponto. Supõe-se que esta se extenda pelos domínios sulistas da região dos Bálcãs. Para visitá-la tive que iniciar uma profunda pesquisa, que mesmo após longos anos de estudos, não pude extrair tal meridional com exímia precisão. Seria preciso encarar a viagem. Munido de um decrépito mapa, uma bússula arcaica e um canivete do tempo de meu avô, resolvi desbravar a mística região. Ao aterrissar em solo búlgaro percebi que seria necessário migrar para o sul. Com pouco dinheiro e não dominando o idioma, comprei por uma pechincha a mais esdrúxula bicicleta do mercado europeu. Veículo que se fazia lembrar o primeiro modelo inventado por Karl Friedrich Ludwing Chiristian Sauerbronn, sendo fabricado por vigas de madeira. Foram-se alguns anos de pedaladas até adentrar-me no terrritório da Macedônia. Um pouco mais adaptado ao clima e aos costumes da região dos Bálcãs, não foi difícil fazer contato. Encontrei por acaso, nas escadarias da mais antiga igreja de Skopje, o signor Olindo Lindi (autor do Guia do Viajante em Drimônia). Olindo era de muita idade. Cento e nove anos muito bem vividos, reza a leda. As poucas palavras que ainda saltavam de sua enferma traqueia eram construidas à base do antigo dialeto de Drimônia. Seria este, o último habitante ainda vivo, porém exilado de sua própria natalidade. Olindo rezava em silêncio nas escadarias, sem ao menos cruzar os portais da antiga igreja. Sabia eu que estava bem perto do destino aguardado. Resolvi mais alguns quilômetros no pedal. Passadas algumas semanas. Exausto, perdido no meio da selva, parei para morrer. Foi quando lembrei-me do que falava o velho Olindo, ao balbuciar-me um mantra. "Trunca". Dei-me por repetir com fervor tais palavras até o desmaio. Acordei dias depois em um leito hospitalar. E ao perguntar à enfermeira o que havia acontecido, esta me explica que fui encontrado moribundo, abraçado à estátua do poderoso Oskutchawa, pelo exército missionário da região. E que ao meu lado, a palavra "trunca" estava arranhada no solo, aos pés da estátua. E parte para a péssima notícia. Drimônia fora destruída pelo clero macedônio há quase um século atrás, e que seria impossível qualquer vestígio cultural senão a estátua do deus adorado. Pelo menos isso, havia eu encontrado. Inconformado, retornei à Skopje. No local aonde teria encontrado o velho Olindo, nas escadarias da igreja, restara apenas seu livro. O Guia do Viajante em Drimônia, aberto na página cento e nove. Onde esta dizia em mantra: "Trunca...Trunca...Trunca...". Cuja tradução literal é: "Se esta for a vontade do grande e poderoso Oskutchawa, que seja esta a minha também." E nada do velho. E nada de Drimônia.

Um comentário:

Anônimo disse...

O velho fugiu pra BH pra ver se pelo menos por aqui o pau fica duro!