DICAS DO VELHO SOFÁ

O Filme: Não Matarás
Direção: Krzysztof Kieslowski
Duração: 85 min.
Com: Miroslaw Baka e Krzysztof Globisz.

Krzysztof Kieslowski tinha na imagem o seu subsídio conceitual. Era capaz de desenvolver gramáticas visuais, ornamentando cenas precedidas por trilhas, ainda antes de se valer o diálogo verbal. O polonês nos lega uma obra calcada no ceticismo da raça que prefere em algumas oportunidades tratar à pontapés. A consagração de Kieslowski como diretor de filmes de ficção viria com a série de TV Decálogo, série inspirada nos dez mandamentos. O cineasta faz de sua experiência documentarista, uma jornada metafísica muito particular em sua abordagem. Não se limitando a ilustrar os mandamentos, Kieslowski inunda suas histórias de sarcasmo e ironia. Dois de seus melhores episódios foram readaptados e lançados comercialmente nos cinemas incluindo a obra; NÃO MATARÁS (Krotki Film o Zabijaniu, 1987). Regido pelo signo negativo, o filme apresenta uma linguagem de extrema violência, tornando-o bem pesado enquanto entreterimento. Narra um duplo homicído. O assassinato gratuito de um taxista por um jovem sem ocupação e o Estado que o condena à morte. Ambos equivalentes. Tanto a ação humana arbitrariamente violenta quanto a lógica brutal do Estado na condenação desumana do crime. Ambos impregnados de barbárie. O filme apresenta uma belíssima fotografia, esbanjando a composição por linhas, planos, tomadas e closes, num clássico de tons de cinza. Seu estilo fragmentado de narrativa, maduro o bastante pra a abordagem de um pessimismo cético, equilibra à constante negação. O verbo somente se manifesta quando de extrema necessidade. Um filme forte. De peso. Porém, de uma poesia imagética que nos leva ao deleite confortável da obra, ainda que munida de signos violentos e paradoxos dogmáticos. Destaque para o diálogo, na prisão, entre o criminoso e o seu advogado.