sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

ENTRE VISTAS:

Pier Paolo Belusso da Motta, o Meia. Produtor musical. Beat-Maker. Poeta do Sample. Amigo.

-CHIEN DE RUE... : Então, parceiro, a internet é uma parada muito sinistra, diz aí? Conversamos já há algum tempo praticamente quase todos os dias, já trabalhamos em vários sons juntos, e a única informação que eu tenho de você é que é de Caxias do Sul e que teu coroa é crítico de música ( chegou a escrever várias críticas para revistas de porte, como a antiga Show Bizz). Me fala aí.. A música então sempre teve diretamente ligada à sua vida. E o RAP? Como entrou na história?
- Meia diz: cara, o primeiro contato que eu tive com o rap acho q foi em 89, quando meu coroa chegou com um disco do Run DMC em casa.. eu lembro q ele gravou em uma fita pra mim... de um lado ele gravou Run DMC e do outro uma coletanea do Benny Goodman... Mas quando eu comecei escutar mesmo rap foi em 92, qdo saiu o the cronic do Dre, comprado pelo meu pai tb.
-CHIEN DE RUE... diz: Você é bem novo ainda, né?
- Meia diz: 22
-CHIEN DE RUE... diz: Daí, você teve contato com o som, começou a estudar a linguagem e tal. Mas como passou de consumidor à produtor?
- Meia diz: Cara, acho q começou na real aí por 95... eu ficava tentando fazer loops em um toca-fitas.. passava de um deck ao outro, mas só por diversão mesmo... daí meu professor de violão me arrumou um groove box.. ruim demais. Mas foi aí q eu comecei aprender a sequenciar uns beats e tal. E qdo eu descobri o fruity loops e o reason fudeu. Não parei mais.
-CHIEN DE RUE... diz: Então, além de produtor é um instrumencista?
- Meia : Mais ou menos. Toco um pouco de violão e faço umas aulas de piano clássico.
-CHIEN DE RUE... diz: Tem inserido esses elementos na sua produção? Fora a linguagem e a concepção?
- Meia diz: Tenho sim cara, mas independente se é tocado ou sampleado, as aulas de musica sempre me ajudaram pra caralho.
CHIEN DE RUE... diz:
Se lembra do primeiro beat que foi aproveitado como trabalho?
- Meia diz: Lembro. Tinha um sample de Sketeches of Spain do Miles.
-CHIEN DE RUE... diz: Jazz. Faz muito uso dessa linguagem na sua produção. Qual é o estilo de música mais trabalhado por você? Desculpe. Antes, quem gravou nesse primeiro beat?
- Meia diz: Cara, eu sampleava muito soul e funk, mas to enjoadão agora.. Tô sampleando bastante trilha de filme antigo e umas óperas tb. Além de jazz e mpb.
- Meia diz: Foi um muleuqe aqui de Caxias. Gravo no mic do pc mesmo.
-CHIEN DE RUE... diz: Ficou maneiro o som? Tenho que ouvir essa parada...ehehehehehe
- Meia diz: Ficou sim cara, mas o beat é bem cruzão ainda e a voz ta mal gravada. Mas vô pegar o som com o muleque e te passo.
-CHIEN DE RUE... diz: Mas como começou a trabalhar com a galera de fora, fazendo contato com nêgo de fora?
- Meia diz: Hiiii, nem sei quem eu conheci primeiro. Um foi me levando ao outro. O my space ajuda tb. Pra caralho.
-CHIEN DE RUE... diz: Mas foi através da internet?
- Meia diz: Isso.
-CHIEN DE RUE... diz: Ganha dinheiro com essa produção?
- Meia diz: Muito pouco, mas tô tirando uns trocados sim.
-CHIEN DE RUE... diz: A cena hoje em dia proporciona a veiculação do produto sem nenhum fim lucrativo, fazendo uso de ferramentas como o próprio myspace que cita anteriormente, e ganhando âmbito até mesmo mundial. O que acha dessa viagem?
- Meia diz: Acho bom d+ cara, pq agora todo mundo pode divulgar o trampo... uns tempos atras dependia de ter uma gravadora, grana pra estudio.. acho q ta tudo mais facil, e tem muito cara bom aparecendo por esses meios.
-CHIEN DE RUE... diz: Mas e a questão de ser quase nulo o lucro com essa tarefa, sendo que vários desses artistas já levam a prática como profissional? O artista que faz uso desse processo tem a possibilidade de comercializar seu produto, enquanto profissional da área? (Conversei há um tempo com um produtor de uma gravadora independete norte-americana, que me adiantou que em cerca de dois anos a indústria fonográfica mundial perderia sua precisão, uma vez que a música já estava sendo comercializada na internet, e esse veículo vêm tomando conta da Europa e dos Estados Unidos)
- Meia diz: Concordo com ele.. ninguem depende mais de gravadora, vc pode lançar uma parada independente e divulgar pela internet.. e acho q da pra tirar uma grana sim, quem gosta do trampo, a hora q sair em cd compra... Eu pelo menos compraria. Mas na real acho q ninguém ta querendo ganha muito não. Os nêgo são é viciado em música mesmo. É vício.
-CHIEN DE RUE... diz: Mas ele aborda a questão de que hoje em dia sites de músicas comercializam a faixa pela internet, a um preço muito baixo,1, 2 dóllares... Como no site I Tunes... hehehehehehe... Concordo com a parte do vício.
- Meia diz: Acho bom ué, se tu não gosta do disco inteiro e quer só uma faixa, é ótimo.
-CHIEN DE RUE... diz: Mas seria essa a solução para a questão financeira do produtor? Não que esse almeje lucros milionários, mas não seria nada mal viver disso, verdade? Mas acho que já estamos talvez fugindo do foco. Voltando à sua história como produtor...
- Meia diz: Não seria mesmo... .. Mas não adianta, os cara pegam o disco e botam no e-mule de qualquer jeito, acho q vai ter cada vez menos nego ficando rico com musica... Vai sobrar só os que gostam mesmo da parada. Pra mim as gravdoras andavam numa merda mesmo... nos ultimos 3 anos eu ia nas lojas de cds afinzão de gastar e só encontrava porcaria.
-CHIEN DE RUE... diz: Concordo contigo, mas isso daria pano pra manga para discutirmos durante horas... Até mesmo pela questão, de que o artista cada vez mais se submeteria ao trabalho em outra área pra conseguir manter sua produção.
- Meia diz: Mesmo
-CHIEN DE RUE... diz: Mas como vê a evolução do rap? Desde Bambaata à misselânia musical em que hoje se encotra.
- Meia diz: Não to encontrando a palavra certa aqui. Caralho. Essa parte tu corta neh? hehehehe
-CHIEN DE RUE... diz: Precisa?
- Meia diz: Cara, assim, eu acho q a mídia conseguiu fuder d+ com o rap... mostram os carrões, putas, todas aquelas coisas, e o verdadeiro rap fica no underground e a impressão q as pessoas tem de fora é que o rap é aquilo, gangsta, pimp, bitches, bling bling. Enquanto tem muita coisa boa q nunca vai tocar nas radios e nem passar na TV. Não acha?
-CHIEN DE RUE... diz: Concordo. Em contrapartida, rádios como a Rádio Favela, a Boom Shoot, a Bocada Forte vêm divulgando o trabalho alternativo, assim como o espaço midiático da internet é dominado pelo cenário "anti-pop". Não teria os dois lados talvez a mesma proporção, se tratando de Brasil, e não Nova York ou L.A?
- Meia diz: Tem muito nego q pensa q underground é um estilo. Q vc sampleia alguma coisa da blue note, manda umas rimas abstratas e aquilo é underground. Underground pra mim é quem não tem gravadora... tem muito nêgo q faz som pop e é underground. E ser underground é pop Então sei lá. hehehehehehehehe
-CHIEN DE RUE... diz: É, a linha que tentou um dia separar o underground do mainstream se desmanchou.
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Pra quem quiser conferir o som do Meia:

Um comentário:

alice. disse...

Cara, eu sempre elogio o q vc faz.
Mas essa entrevista merece um pouco de destaque, ela é muito boa. Muito bem feito, fiquei impressionada. Acho entrevista uma coisa muito foda de se fazer e você se saiu muito bem... só a cabou meio repentino, ehehe.
Mas tá valendo.