sábado, 9 de dezembro de 2006

ENTRE VISTAS

Entrevista mútua:
luiz (Loise)
CHIEN DE RUE...(GNZ)

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-luiz diz: *#!!*&ª#¢!..., também conhecido pelo seu auto-entitulado apelido GNZ, agora se aventura pelo mundo da literatura virtual com o seu blog: Olhar Vira-Lata. Me diz aí GN, como surgiu a idéia de escrever esse blog?
-CHIEN DE RUE... diz: Na verdade eu já vinha atormentando as comunidades do orkut com meus dizeres, ora munidos de senso, ora em total devaneio lírico, com a intenção provocativa de propor algum olhar menos pedigree... Algo bem vira-lata. O que você entende por olhar vira-lata?
-luiz diz: Prá mim, a expressão vira-lata me remete alguma coisa marginal. Aquele cão que não tem uma casa limpinha, com todas as suas comodidades. Talavez seja o cão sujo, tosco, fedorento, aos olhares mais conservadores. Por outro lado, ele pode ser uma espécie de herói, que revira as latas de lixo em busca de sua sobrevivência. Vive só e é auto-suficiente. Além do fato de ser mestiço, né? O cão que não tem uma única raça, mas é produto de várias delas. Talvez isso lhe dê algo a mais, um misto de culturas e identidades, uma riqueza só dele. Que carrega consigo mesmo pela sargeta por onde anda. É um ponto de vista particular, mas o underground, como os cães vira-latas, sempre me agradam. E para você, o que significa esse olhar vira-lata? Até que ponto você assume essa identidade?
-CHIEN DE RUE... diz: Seria aniquilar a essência do blog eu resumir em uma resposta o que é o olhar vira-lata. Tento expor a questão, de uma maneira sutil, sem a prévia influência de meu conceito. Mas posso afirmar que tento a personificação desse olhar a cada foco ou mira. Seria necessária a afirmação desse signo enquanto provida de inúmeras interpretações individuais para que minha opinião relatada se faça valer?
-luiz diz: Acredito que quando afirmamos uma identidade e a reafiramamos atrvás dos olhares de outros, essa identidade arrecada mais legitimidade. Isso acontece muito na arte, por exemplo. Mas temos que admitir: tudo não passa de fantasias que escolhemos vestir, que selecionamos a dedo de dentro do armário de nosso inconsciente. Através delas, montamos os nossos personagens, que circulam sorridentes ou chorões em meio ao espetáculo que é a vida cotidiana. Você já parou para pensar nisso? Em quanto tempo a escolha e a construção de um personagem a ser apresentado ao mundo influência suas atitudes e lhe ocupa o tempo?
-CHIEN DE RUE... diz: Creio que não entendeu muito bem a minha pergunta. Questiono o valor de meu olhar entitulado vira-lata enquanto desprovido de conceito algum que partiria da minha persona, limitando-se apenas às interpretações alheias. Respondendo agora a última pergunta feita, ocupa quase uma vida. Acho que somente assumimos um personagem quando este nos seja conveniente. Até mesmo por tentar o controle sobre tal situação. São reflexos do inconsciente, são traços do alter-ego, são posições e visões perante ao mundo externo, o que proporciona talvez uma lapidação do caráter... Quando me entrevista agora, não estaria você fazendo uso de um peronagem por você idealizado?
-luiz diz: Na verdade eu não acredito muito que você não tenha atribuido nem um tiquinho de conceito a esse título de vira-lata. Essa última resposta, inclusive, talvez explique um pouco disso: talvez seja conveniente para você ser um "vira-lata", reflexo de seu inconsciente. Mas acho interessante a sua busca de legitimização de tal personagem através das interpretações alheias. E eu também admito: assumo sim um personagem a cada situação, a cada momento, a cada diálogo, a cada pessoa que me questiona. Ocupa uma vida mesmo. Você percebe ter muitos personagens ou poucos, ou apenas um, ou nenhum?
-CHIEN DE RUE... diz: Tenho todos. Os meus personagens se fazem na verdade quando em contato com o outro. Este, constrói o perfil da persona a partir de seus próprios conceitos. Sou todos do mundo. Mas quando sou eu, detenho apenas meu confuso e instável ponto de vista. Não seria impossível a chacina de tais personagens ainda que obsecado por um auto-conhecimeto purista?
-luiz diz: Provavelmente. Não acho ser possível viver no tempo e espaço em que vivemos sem estar munido de personagens eficientes. Este tal "eu" a que você se refere inclusive, talvez nem exista mais. Ele se confunde com o imenso repertório de informações que constroem as nossas várias personas. Os blogs, inclusive, vêm sendo analisados por alguns especialistas como uma atitude extrema de auto-afirmação dos "eus". Talvez uma válvaula de escape para eventuais perdas de referência, ou uma simples consequência da sociedade do espetáculo levada ao extremo. O seu blog, por exemplo, é bem cheio de informações. Poesia se mistura com música, com entrevistas, com diálogos, receitas... De onde tira tanata referência e inspiração?
-CHIEN DE RUE... diz: Do próprio meio virtual em que estamos inseridos. Da multiplicidade informativa, da misselânia cultural, da popularização do maldito, da falta de interesse geral unida ao interesse direcionado e particular, dos fantasmas que assolam a minha efemeridade, da vida que espelha a arte e da arte que nega tal espelhamento. Insprio nas personas alheias. No comercial desvalido de preço. Na loucura maquilada que deixamos escorrer em nosso bom dias. O mundo atual não te inspira a ser quase que um mini-dicionário, sabendo tudo sobre nada, o nada sobre tudo?
-luiz diz: Às vezes sim. Às vezes fazemos isso até sem perceber, quando começamos a consumir informações inconscientemente, e continuamos, em inércia. uma coisa que às vezes nos coloca nssa situção é foato de vivermos em uma sociedade abarrotada de pessoas, mas ao mesmo tempo individualista. Observamos aqueles que estão a nossa volta, e analisamos seu repertório, e desejamos aquele repertório, ficamos ávidos por informação, canibais da pós-modernidade. Antropofagia completa e total. Mas somos limitados, não podemos ter e saber e ser tudo o que queremos. A miséria humana. Alguns textos do seu blog fazem referência à miséria, em especial, me lembro daquele que fala sobre um certo lugar na áfrica que visitou. Como vc acha que a miséria impregnada ao nosso redor e dentro de nós nos influencia?
-CHIEN DE RUE... diz: Negar o quão miseráveis somos seria o mesmo que dar suporte a idéia de que somos menos hipócritas a cada momento em que tentamos uma absorção de nossa própria essência, deiferindo-nos então de cada ser habitante nessa mesma proção de espaço/tempo. Somos miseráveis desde o aprisionamento da alma ao corpo. Desde a extrema fidelidade às leis químicas e físcas do natural que nos permeia. Desde o restringimento de nosso pensar e de nosso saber ou sentir, às regras gramaticais. A questão seria: Como fazer pra que nossa miséria nos seja confortável?
-luiz diz: Talvez a atitue de boa parte da da população mundial responda isso a você: simplesmente ignorando-a. mas talvez isso não seja o ideal. Uma outra maneira seria trabalhá-la, assumi-la e fazer da miséria uma riqueza. A merda enquanto ouro. A loucura enquanto arte. assim como bispo do rosário. Falando sobre ele, você perguntou: o que afinal é preciso para que um trabalho seja considerado arte. Devolvo-lhe a pergunta: o que é preciso para que um trabalho seja considerado arte?
-CHIEN DE RUE... diz: A intenção de seu propositor. Acha que sem a intenção, Marcel Duchamp faria do mictório arte?
-luiz diz: Duchamp tinha muita intenção, e é o exemplo clássico. mas outros tantos trabalhos são considerados arte sem necessariaemente terem sido realizados com uma intenção artística. Não sei se é o melhor exemplo, mas as pinturas pré-históricas teriam algum objetivo artístico?
-CHIEN DE RUE... diz: Conceitual sim. Já atribuiam ao trabalho um valor conceitual, como a própria história nos informa (ainda que saibamos que esta se faz extremamente tendenciosa). Pintavam, porém não só com a intenção plástica, ou talvez até mesmo despreocupados quanto a isso, mas detinham um valor conceitual quase que religioso, desde o ato (reverenciado por Duchamp na valorização do momento enquanto parte da obra) ao produto final de sua expressão. Acha que conceito na arte é privilégio da arte pós modernista?
-luiz diz: Definitivamente não. O conceito já estava impregnado na arte produzido em vários períodos da existência humana, como nas catedrais construídas com torres que apontavam os céus e mesmo a arte abstrata, sem conceitos objetivos, mas conceitos estéticos. Enfim, como acredito, discutir arte nem sempre leva a conclusões. Ou como uma frase que li outro dia: "escrever obre arte é como dançar sobre arquitetura". Você já dançou sobre arquitetura?"
-CHIEN DE RUE... diz: Quase que diariamente. Eu danço sobre arquitetura, eu corro sobre arquitetura, eu pulo, eu vôo, eu cuspo, eu falo, eu deito, eu choro, eu trepo... Eu sou a parte móvel da arquitetura. Consgue entender?
-luiz diz: Não. A arquitetura somos nós, mas a arquitetura está morta, e nós estamos vivos, por enquanto. Ou você descorda?
-CHIEN DE RUE... diz: Em partes. Às vezes está muito mais viva do que nós. (fim)

Um comentário:

Anônimo disse...

Por que nao:)