sábado, 2 de dezembro de 2006

AONDE LEVAM MINHAS SOLAS


Local: Minuni.
Localidade: Região da Floresta dos Grandes Espinhos, África.

Habitada por um miúdo povo conhecido pelo nome de Homens-Formigas. A floresta é uma inexpugnável selva cobrindo um vasto território. Lar de animais de pequeno porte, devida às suas propriedades. Outro povo além dos Homens-Formigas habita a região. São os membros da tribo Alali (gigantescas mulheres que ocasionalmente confrotam com seus conterrâneos). Duas cidades formam a região de Minuni. Veltopismakus e Trohanadalmakus (geralmente em constante estado de guerra). A arquitetura é desproporcional ao tamanho dos Homens-Formigas, fazendo dos tetos, cúpulas esculpidas com bastante zelo. Um belíssimo exemplo dessa arquitetura é o Palácio de Adendrohakis, com 36 andares se tronando um autêntico formigueiro para tais pigmeus. Os habitantes da região de Minuni mais comuns cavalgam miniaturas de antílopes reais, semelhantes às espécies que habitam a costa ocidental do continente africano. Não é aconselhável ao turista tal montaria, salvo a altura do folião não ultrapassar a margem de trinta centímetros. Tendo como fonte o livro de Edgar Rice Burroughs, Tarzan and the Ant Men (NY,1924) descrevo meu próximo destino. Dica aceita. As passagens de navio já estavam reservadas meses antes da data escolhida para o embarque. Escolhi o navio como meio de transportar-me ao continente vizinho por ainda não sentir-me confortável com a situação atual das companhias aéreas no Brasil, mas isso é assunto para outro post. O passaporte era quente e o visto atendia todas as suas burocráticas qualidades perante o governo de ambos países. Previamente assistido por guias turísticos da região finalmente chego a Minuni. Oitenta e dois anos depois de Rice Burroughs. O hambiente, o cenário, eram de tamanha semelhança fotogáfica aos relatos do meu antecessor. Porém, Minuni agora sucumbia às trevas. O crack havia tomado conta da aldeia dos Homens-Formigas, o que rapidamente ocasionou em uma duradoura gurra civil. A arquitetura ainda se matinha magistral, porém abrigava o lixo da sociedade africana. A AIDS dizimava lentamente os poucos remanescentes. As gigantescas mulheres de Alali se transformaram em prostitutas. E as duas cidades agora deram origem à uma só favela. Porém, fruto de uma época de glória em que o turismo mantinha elevado o giro monetário dentro da região, Minuni conta com três McDonald´s (sendo que somente um continua funcionando e somete se vende a casquinha de sorvete) um estádio de futebol em eternas dívidas, geralmente alugado para eventos de solidariedade (assim como o clipe de Michael Jackson gravado em Ruanda) e uma quase falída indústria ferros de passar roupas (a renomada empresa Blacken Pass). A hospedagem é barata. Não muito higiênica. A alimentação é curiosa. Somente uma vez por dia. A base de côco, a dieta é extremamente enjoativa, mas sai quase de graça. Muitos pernilongos. Muitos roubos. Um caos que nos faz ter a certeza de que cada vez mais o Brasil se distancia do conceito de terceiro mundo. Ou que cada vez mais os países ditos de quarto mundo estão em assenção. Não consegui alongar minha estadia, retornando ao Brasil em pouco menos de duas semas. Publico somente um trecho de minhas anotações pela a simples pretensão de que tais relatos rendam um livro num futuro não tão distante.

Um comentário:

Anônimo disse...

muito trágico o destino desse povo... eu tenho certeza que a linda cultura dessas pessoas ainda é capaz de superar tamanha desgraça. e mesmo que seja extinta, que sirva de lição para o resto do mundo. uma civilização é feita de homens de verdade, e mulheres de verdade, e todos têm o direito à vida.